Simone Carleto*
Diferente do que se espera das
solenes aberturas de atividades culturais, o 57º Festa - Festival Santista de Teatro, teve dupla
(elevada à potência coletiva) demonstração artística em seu início, na noite de 1º de setembro de 2015, no teatro do Sesc
Santos. Cerca de 500 pessoas aplaudiram a iniciativa do coletivo formado por
Raquel, Caio, Júnior e Platão (são artistas
participantes de grupos de teatro da região organizados como Movimento Teatral da Baixada Santista), que, a partir de expediente teatral
característico da forma épica, apresentaram o Festival com um
salto no tempo que projetava a cidade de Santos e o Movimento Teatral para o
ano de 2025. Assim, com toda a consequente atitude desses corifeus do ofício teatral que buscam a interlocução efetiva com a sociedade e a cidade,
foi feita a defesa de uma lei de fomento ao teatro para a cidade de Santos,
tema do Festival de 2015.
O principal argumento dos artistas
para firmar a importância da lei, explicitado
objetivamente, é que o fomento proporcionará importantes rupturas na lógica de mercado e possibilitará aos cidadãos de Santos, para além do contato com a linguagem teatral,
a produção teatral. A visão do futuro é afirmada pela atuação no presente, em que os artistas do
movimento colocam-se ao lado de outros companheiros da mesma luta, por educação, saúde e, juntamente com outras políticas, "uma arte pública”, nas palavras da atriz Raquel Rollo.
Na fala de Débora Maria da Silva, representante do
Movimento Mães de Maio (que lutam contra a violência do estado com relação à juventude, algo que está barbaramente naturalizado nos nossos dias), foi reconhecido
o potencial do teatro como intervenção social que chama a atenção para a reflexão a respeito do modo como vivemos.
Foto: Rodrigo Morales |
Com forte efeito e justa homenagem a
Débora, que recebeu uma escultura
inspirada no desenho que Patrícia Galvão, a Pagu, realizou para a primeira
edição do Festival, idealizado por ela, foi
convidada a 'Caravana Tonteria’ para o palco. A trupe, reunida originalmente para a criação de trilha sonora para o casamento de
Letícia Sabatella e Fernando Alves Pinto,
tem os dois como intérpretes do repertório, ao lado dos também deslumbrantes músicos Paulo Braga e Zéli Slva. Para o roteiro musical, eles
utilizam ambientação e figurinos que remetem aos
ambientes intimistas dos cabarés e portanto, das relações propostas pela cultura popular que
privilegia o contato-diálogo mais próximos com o público. Este, formado em grande parte
por atores e atrizes da área teatral da baixada, participou do
espetáculo com manifestações de alegria, prazer e
reconhecimento, como ocorreu em um dos auges da apresentação, quando foi apresentada Geni e o
Zepelim, da Ópera do Malandro, de Chico Buarque
(Inspirada em 'A Ópera dos Três Vinténs’, de Bertolt Brecht e Kurt Weill). PS:
Por estas e outras tantas mulheres guerreiras, ativistas, este texto segue a
linha da emocionante abertura, e coloca as mulheres em primeiro lugar, fora da
ordem alfabética. Que venha o Fomento, para
possibilitar mais ações desse tipo, e como disse a
imprescindível Raquel Rollo, a Festa seja feita
todos os dias.
* Artista
pedagoga, pesquisadora teatral e coordenadora da Escola Viva de Artes Cênicas de
Guarulhos; doutoranda no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”.
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